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Quando nos perguntam porque fizemos isto ou aquilo, porque decidimos ou optámos de determinada maneira. Podemos responder de duas maneiras: Ou dizemos as verdadeiras razões ou, para preservá-las, podemos responder simplesmente: Cá por coisas...
Sempre se ouviu falar dos países do terceiro mundo. Não sei quem inventou esta expressão, (talvez deveria ter investigado) mas há muito tempo que serve para designar os países subdesenvolvidos e que se encontram com grandes dificuldades de subsistência, de manutenção da paz ou mesmo guerra declarada, falta de serviços médicos e humanitários, etc.
No entanto, quando se fala num terceiro mundo, logo está implícito que deverá haver, pelo menos, o primeiro e o segundo, pois não podemos saltar logo para o terceiro numa qualquer contagem numérica. Assim, dentro da lógica imposta, o primeiro mundo deverá ser constituído pelos países desenvolvidos e o segundo com os países em vias de desenvolvimento ou chamados emergentes, numa linguagem mais actual.
Todavia, com a globalização económica há uma passagem de um livro que não deixa de ser muito interessante e deveras bem observado que resume, de uma forma muito leve, que a sociedade de um qualquer país no mundo, hoje em dia, é composta com os vários níveis de desenvolvimento desta escala. Como se houvesse uma representação de cada "mundo" dentro de cada país. Parece confuso, mas não é de todo, vejamos:
"Acresce que, por uma espécie de efeito paradoxal que se deve à globalização económica, o terceiro e o segundo mundos encontram-se, também, no interior do primeiro mundo em guetos urbanos e suburbanos muito perigosos, enquanto o primeiro mundo se encontra nos terceiro e segundo em condomínios urbanos altamente fortificados." (António Covas, 2011). Ou seja, esta estratificação dos países se encontra representada dentro das sociedades de uma forma vincada pela própria globalização.
Porém, com as mudanças socio-politico-economicas neste paradigma mundial actual, há países que poderão descer ou subir nestes níveis de gradação ao mesmo tempo que as próprias populações se movem dentro destes níveis de classes sociais, normalmente associados à classe alta, média e baixa. Na Europa, principalmente nos países intervencionados pela denominada "troika" assiste-se ao alongar da distancia entre a classe alta e a classe baixa, perdendo grande parte da população o estatuto "médio"/em vias de desenvolvimento, dado que os acessos à educação,à saúde, ao emprego, etc, são cada vez mais difíceis, acentuando a clivagem social. Vamos ver se a situação se inverte, o que me parece pouco provável nos próximos tempos na UE.
Na sua ânsia de consolidação económica, de "punir" os incumpridores, de impor a vontade num país soberano, demonstrando poder, o discernimento da UE foi toldado completamente no que diz respeito a uma visão estratégica global e aprofundada do assunto, ridicularizando a sua política externa que foi (é) redutora e de baixo nível de inteligência. Não é só Merkel que tem culpa, mas todos os outros que a deixam ter total protagonismo e não a "elucidam" devidamente.
Futebolisticamente falando, a Alemanha na Liga doméstica é um "clube" forte, mas mundialmente quando encontra um colosso (neste caso a Rússia) é apenas mediano. Agora se fosse uma seleção unida de clubes (leia-se países) que têm os seus objetivos bem determinados, que sabem que podem contar uns com os outros... aí a história era outra.
Com a globalização e o mercado livre a comandar as operações, o "Ocidente" pensou que a China torna-se-ía num bom gigante, mais ocidentalizado, mais democrático, liberal, etc, no entanto, descurou o potencial da China e de outros países emergentes, quer de crescimento, quer de população, quer ainda de concorrência com regras diferentes. Isto é, num mercado liberalizado, a mão de obra mais barata, a inexistência de normas ambientais (ou poucas), fiscalidade menos "apertada" e outras regras e politicas facilitadoras dá vantagem a determinados países em relação a outros que têm de cumprir regras mais apertadas e garantir direitos conquistados pelos seus trabalhadores.
Este facto e com a crise a assolar desde 2008, os países ocidentais que, por sua vez, já tinham atingido um patamar de evolução e de bem-estar mais elevado na sociedade, estão a ficar cada vez mais "chineses" reajustando as regras, retirando direitos adequiridos aos trabalhadores para um nível há muito ultrapassado pela história desses mesmos países. Houve (está a haver) uma regressão nos direitos do trabalho, quer também nos direitos sociais e por vezes, humanos, tudo em nome de uma competitividade cega e de expansão de números de crescimento.
A economia tem sido o motor, talvez o mais importante, do desenvolvimento da sociedade humana, mas também está a ser um factor de "aniquilação" do Homem enquanto ser humano livre e igual.