Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Quando nos perguntam porque fizemos isto ou aquilo, porque decidimos ou optámos de determinada maneira. Podemos responder de duas maneiras: Ou dizemos as verdadeiras razões ou, para preservá-las, podemos responder simplesmente: Cá por coisas...
Sempre gostei de ler e actualmente tenho conseguido tempo suficiente para me fazer acompanhar de um livro. Posso dizer que é um hobbie que me dá prazer e me enriquece com as diferentes abordagens do quotidiano, da vida, da história, diferentes opiniões e visões pessoais de cada autor, diferentes tipos de linguagem e modos de escrever que ao mesmo tempo tornam mais sólido o meu conhecimento sobre as coisas e a minha cultura geral.
Por vezes, quando acabo de ler um livro, penso que gostaria de ter sido eu a escrevê-lo, afinal até parece fácil, são apenas palavras escolhidas que dão determinado sentido lógico à narrativa com a imaginação e criatividade do escritor. Mas não é simples, lembro-me de obras complexas onde os enredos e as personagens se separam, cruzam, interligam ou seguem em diferentes períodos de tempo e diferentes lugares e tudo com um propósito que é revelado mais tarde, ou mesmo no final do livro. Estes livros prendem o leitor de uma forma tão viciante que é-lhe difícil interromper a leitura.
Infelizmente, no nosso país a média de leitores regulares é escassa, ainda para mais com os preços altos que os livros têm e que impossibilitam mesmo os que gostam, de aceder a mais obras.
Por outro lado, tenho de "investigar" também agora a nova moda do "e-book" e do "e-reader", algo que é inovador e que possibilita possuir muitas obras em pouco espaço físico, para além de que, se lermos durante o caminho para o trabalho podemos levar uma biblioteca às costas sem nos pesar muito. Também dizem que "não cansa a vista" como um qualquer ecrã/monitor, dado que não é iluminado e como tal não afecta tanto. Enfim, maravilhas das novas tecnologias.
Todavia, tenho pena de não ter mais livros, gosto de ver os livros nas estantes, arrumadinhos, prontos para contar uma história a quem pegar neles. Já li os que tenho (nunca leio a 2ª vez) e, às vezes, peço emprestado e troco com amigos e familiares, doutra maneira só pelos aniversários, Natal ou "Feiras do livro" (onde os preços geralmente são mais simpáticos) é que tenho mais literatura. Penso que é um hábito que devia ser cultivado nas pessoas, começando logo pelas crianças e jovens. Aprende-se muito, viaja-se, descobre-se, imagina-se, cria-se...
Para não dar a ideia que este blog voltou para ser uma página temática relacionada com culinária, dado que falo em churrascos e sardinhada num post e noutro falo em pratos de polvo. Volto para falar de um dos meus temas preferidos: LIVROS.
Sempre que passo por uma livraria Bertrand, Fnac, Book House, etc, lá ando às voltas à procura de novidades e se possível promoções e pechinchas. Porém, salvo algumas iniciativas promocionais, acabo por comprar mais livros nas Feiras do Livro que regularmente surgem na Estação do Oriente. Devo confessar que os preços não são muito mais baixos do que nas lojas, mas consegue-se arranjar por vezes algumas edições antigas de livros que já saíram de circulação ou que não tiveram grande aceitação pelo público.
Uma das minhas últimas aquisições foram dois livros de um escritor-jornalista brasileiro Eduardo Bueno, que é fascinado em história, aborda os primeiros tempos da descoberta do Brasil e sua colonização.
A escrita é leve, explícita e de fácil leitura. O autor consegue de uma forma simples enquadrar os vários acontecimentos de uma forma cadenciada ao longo da narrativa, ao mesmo tempo que pontualmente preenche as páginas com apontamentos importantes e esclarecedores para melhor entendimento das personagens e do contexto em que estão inseridas.
Este autor escreve uma trilogia editada em Portugal pela Pergaminho:
Eu fiquei com a impressão que houve um bom trabalho de pesquisa do autor que apresenta algumas teorias de historiadores pondo por vezes em confronto as suas opiniões. Eu já li dois destes livros e gostei
Muitas são as histórias e aventuras retratadas na grande obra de Fernão Mendes Pinto intitulada "A Peregrinação". igualmente foram, as suas descrições e relatos, alvo de descrédito pelos seus contemporâneos que, por vezes, jocosamente insistiam na celebre piada:
- Fernão, mentes?
- Minto.
Por outro lado, esta obra teve um rápido sucesso na Europa, assim que foi publicada. No entanto, quase sempre ocupou, na história literária portuguesa, um lugar muito mais modesto e imerecido devido ao seu conteúdo que era antítese do nobreza e valentia relatada de uma forma poética nos Lusíadas de Luis Vaz de Camões.
Se um enaltecia os feitos lusitanos e minimizava as agruras e crueldades com uma linguagem fina e rebuscada, o outro relata de uma forma crua e sua vida rica em provações, mesmo sendo retiradas algumas partes de mais difícil crédito. Porém, jamais podemos esquecer o período que viveu Fernão Mendes Pinto, onde as portas de um mundo novo se abriram e as novidades que com ele eram descobertas, pareciam, muitas vezes, algo impossível de coabitar no mesmo globo onde se encontrava a velha e conhecida Europa.
Assim, e para relembrar alguns que já leram e para aguçar o apetite a quem gosta deste género de livros, deixo-lhes um pequeno excerto:
" Quando ás vezes ponho diante dos olhos os muitos e grandes trabalhos e infortúnios que por mim passaram (...) acho que com muita razão me posso queixar da ventura que parece que tomou por particular tenção e empresa sua em perseguir-me e maltratar-me (...) Mas por outra parte quando vejo que, do meio de todos estes perigos e trabalhos, me quis Deus tirar sempre em salvo e pôr-me em seguro, acho que não tenho tanta razão em queixar-me, quanta de lhe dar graças por este só bem presente , pois me quis conservar com vida, para que eu pudesse fazer esta rude e tosca escrita, que por herança deixo aos meus filhos, porque só para eles é minha tenção escrevê-la..."
Fernão Mendes Pinto em "A Peregrinação, vol. I"