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Quando nos perguntam porque fizemos isto ou aquilo, porque decidimos ou optámos de determinada maneira. Podemos responder de duas maneiras: Ou dizemos as verdadeiras razões ou, para preservá-las, podemos responder simplesmente: Cá por coisas...
Eu sou a favor da desburocratização, sempre fui e sempre serei. Detesto papeladas e formulários que se têm de preencher com muito cuidado e a letra maiúscula, que fazem tanto stress nas pessoas que acabam por se enganar quase sempre e ter de preencher outro. Detesto as voltinhas que nós temos de dar quando queremos determinados documentos ou serviços, pensamos que temos toda a papelada e quando chega a nossa vez falta sempre qualquer coisa para termos de voltar para o fim da fila ou voltar no outro dia.
Nesse sentido, verdade seja dita o Governo tem apresentado algumas medidas que facilitam o cidadão no acesso a determinados serviços. A aposta no "choque tecnológico" e o "Simplex" não é perfeita, mas melhorou substancialmente algumas coisas. No entanto, há muita coisa por fazer principalmente ao nível de mentalidades. Leiam com atenção este caso escrito pelo Redactor Principal do Correio da Manhã João Vaz. Dá que pensar...
"...Contaram-me um caso exemplar: um bracarense, informado e razoavelmente simplex, que perdera a carta de condução, dirigiu-se ao respectivo departamento público para pedir uma 2.ª via. Muniu-se dos documentos necessários e esperou longamente pela vez. Após mais de uma hora perdida, foi atendido. Azar, não adivinhou que, além da apresentação dos documentos, tinha de entregar uma fotocópia do bilhete de identidade. Perguntou se não a poderiam fazer no próprio serviço e recebeu um não. Desesperado por ter de ir fazer a fotocópia fora e voltar para o último lugar da fila de atendimento, reagiu. Pediu o livro de reclamações já conhecido como a ‘cunha dos teimosos’. No caso, não resolveu nada, mas fez explodir a contradição. Como é das normas, o funcionário pediu-lhe o bilhete de identidade para tirar uma fotocópia e juntar à queixa. O que lhe fora recusado quando pediu, acabou por lhe ser solicitado quando reclamou
Para crescer e proporcionar melhores condições de vida, Portugal necessita de um simplex nas mentalidades..."
É preciso dizer mais :P
Confesso que não vi este comentário do Miguel Sousa Tavares na TV, mas se ele disse o que está escrito neste artigo...então merece esta resposta do jornalista João Tavares. 5 estrelas.
"Estava Miguel Sousa Tavares na TVI a comentar a nova Lei do Tabaco quando da sua boca saltou esta pérola: o fumo nos restaurantes, que o Governo quer limitar, incomoda muitíssimo menos do que o barulho das crianças - e a estas não há quem lhes corte o pio. Que bela comparação. Afinal, o que é uma nuvenzinha de nicotina ao pé de um miúdo de goela aberta? Vai daí, para justificar a fineza do seu raciocínio, Sousa Tavares avançou para uma confissão pessoal: "Tive a sorte de os meus pais só me levarem a um restaurante quando tinha 13 anos." Há umas décadas, era mais ou menos a idade em que o pai levava o menino ao prostíbulo para perder a virgindade. O Miguel teve uma educação moderna - aos 13 anos, levaram-no pela primeira vez a comer fora.
Senti-me tocado e fiz uma revisão de vida. É que eu sou daqueles que levam os filhos aos restaurantes. Mais do que isso. Sou daquela classe que Miguel Sousa Tavares considerou a mais ameaçadora e aberrante: os que levam "até bebés de carrinho!". A minha filha de três anos já infectou estabelecimentos um pouco por todo o país, e o meu filho de 14 meses babou-se por cima de duas ou três toalhas respeitáveis. É certo que eles não pertencem à categoria CSI (Criancinhas Simplesmente Insuportáveis), já que assim de repente não me parece que tenham por hábito exibir a glote cada vez que comem fora - mas, também, quem é que acredita nas palavras de um pai? E depois, há todo aquele vasto campo de imponderáveis: antes de os termos, estamos certos de que vão ser CEE (Crianças Exemplarmente Educadas), mas depois saltam cá para fora, começam a crescer e percebemos com tristeza que vêm munidos de vontade própria, que nem sempre somos capazes de controlar.
O que fazer, então? Mantê-los fechados em casa? Acorrentá-los a uma perna do sofá? É uma hipótese, mas mesmo essa é só para quem pode. Na verdade, do alto da sua burguesia endinheirada, e sem certamente se aperceber disso, Miguel Sousa Tavares produziu o comentário mais snobe do ano. Porque, das duas uma, ou os seus pais estiveram 13 anos sem comer fora, num admirável sacrifício pelo bem-estar do próximo, ou então tinham alguém em casa ou na família para lhes tomar conta dos filhinhos quando saíam para a patuscada. E isso, caro Miguel, não é boa educação - é privilégio de classe. Muita gente leva consigo a prole para um restaurante porque, para além do desejo de estar em família, pura e simplesmente não tem ninguém que cuide dos filhos enquanto palita os dentes. Avós à mão e boas empregadas não calham a todos. A não ser que, em nome do supremo amor às boas maneiras, se faça como os paizinhos da pequena Madeleine: deixá-la em casa a dormir com os irmãos, que é para não incomodar o jantar." João Miguel Tavares - Jornalista
Na muche, meus amigos...