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Quando nos perguntam porque fizemos isto ou aquilo, porque decidimos ou optámos de determinada maneira. Podemos responder de duas maneiras: Ou dizemos as verdadeiras razões ou, para preservá-las, podemos responder simplesmente: Cá por coisas...
Hoje em dia fico espantado com a quantidade de pessoas que têm razão. Falo com um individuo, ele argumenta de tal forma que parece que tem razão, converso com outro e o seu discurso é tão verdadeiro que também sugere que tem razão, apesar de dizerem exatamente o contrário um do outro. Será que só eu tenho dúvidas? A perspetiva pessoal com que são apresentados os argumentos, as razões e as explicações, aliadas a uma atitude firme e convincente fazem parecer que todos têm razão.
As racionalidades são tantas e as experiencias de vida, profissionais, sociais e académicas diversas, que as visões de cada um sobre determinado assunto são muitas vezes, variadas e extremas, confundindo a verdadeira realidade e a verdadeira razão. Assim, como disse um filósofo francês “as racionalidades são tantas que nos tornamos céticos”. Assistimos a discussões entre dois ou mais indivíduos e vemo-nos a vacilar entre uns e outros, acabando por cair no descrédito e na desconfiança.
Eu tento, a custo, perceber as várias perspetivas e “encarnar” no papel de cada interlocutor, mas nesta avaliação perde-se tempo e o momento de resposta e, hoje em dia, não há tempo para refletir. É como nas promoções limitadas temporalmente, em que o consumidor tem de comprar senão perde a oportunidade. Esta pressão incutida propositadamente pode precipitar para adquirirmos algo que não precisamos ou que nem sequer serve para alguma coisa. Faz parte do marketing e acho que atualmente isso que acontece em matéria de opinião e decisão.
As coisas raramente são feitas com tempo, é uma característica portuguesa. Quando se começa a planear com muita antecedência dizem: Epá, falta ainda muito tempo! Já estás a trabalhar nisso? - Mas o problema é que o tempo passa depressa demais e quando notamos temos de decidir “para ontem”. E aqui surgem os que têm opiniões já formadas (bem ou mal), os técnicos e os palpiteiros, mas todos se debatem de igual para igual devido à pressão para tomar a decisão. Assim, cheios de si mesmo, por vezes com egos desmedidos que mal cabem nas portas, defendendo as razões que cada um apresenta, de tal maneira que parece que falam todos o que é mais correto. Isto acontece nos mais variados cenários: político, financeiro, profissional, académico, etc. Porém, há que definir a opção a tomar e as decisões nunca agradam a todos, pois unanimidade e humanidade só rimam, mas são praticamente incompatíveis. E claro, com pouca reflexão e muita confusão, se nos apoiarmos nos palpiteiros, podemos enveredar por um caminho que não pretendemos.
Por exemplo, ao ouvirmos os comentadores nas televisões e rádios ou lermos nos jornais, verificamos que segundo a sua ideologia, experiência e perspetiva pessoal abordam o mesmo tema de uma forma completamente diferente, apresentando muitas vezes argumentos plausíveis que lhes dão peso na sua opinião. Quanto a quem ouve, a confusão instala-se e, ou opta pela simpatia de determinado comentador, ou torna-se cético dizendo que na sua diferença de opinião são todos iguais, pois querem defender os seus próprios interesses. E é este o sentimento da maior parte de nós, que inundados com o excesso de informação inclinada para um lado ou para outro, seja sobre que assunto for, acabamos por não acreditar e criar uma perspetiva pessoal que, por vezes é… nenhuma. Mais vale dizer: “Não quero saber
disto para nada! Eles que se entendam! Há coisas mais importantes”, do que perder tempo a refletir sobre as coisas.
O que é um facto é que a sociedade é um sistema aberto e a envolvência abrange-nos e afeta-nos a todos. E por isso temos de estar informados, procurar fundamentação sólida, conhecer os eventuais danos colaterais entre o fator humano e o material, o pragmático e o social, o real e o demagógico. Isto é, convém conhecer as várias perspetivas, definir a nossa própria razão e chegar a uma conclusão. Afinal, nem todos têm razão, mas TODOS podem ter uma palavra a dizer.
Inerente à condição humana, tem servido para desculpar atos que resultam menos bem, falhas por esquecimento ou ignorância, atitudes menos refletidas que atingem terceiros com ou sem intenção. Na minha opinião, o erro apesar de odiado, desprezado, mal-amado e de poucos o reconhecerem como seu quando o cometem, se ele for assumido verdadeiramente e em consciência, traz sempre alguns pontos positivos.
Em primeiro lugar pode demonstrar humanidade, humildade e vontade de aprender com ele. Essa aprendizagem estende-se não só à experiencia pessoal que se adquire, como também às reações de quem nos rodeia, dado que, nessas situações de maior tensão notamos de uma forma mais intensa quem está connosco e nos apoia ajudando a corrigir, amparando e animando e, por outro lado, demonstra quem está pronto a nos criticar de forma veemente, revelando inflexibilidade, juízos precipitados ou recalcamentos de experiencias passadas. Normalmente, as pessoas assertivas, tendem a relativizar as situações, ultrapassando-as, procurando soluções e fortalecendo-se com a experiencia. As pessoas menos seguras, vêm fraqueza nos outros e ficam prontas a retaliar numa eventual resposta ao erro cometido, procurando evidenciar-se com os erros dos outros em vez do seu próprio mérito. Este último exemplo abrange as pessoas que nunca reconhecem que erraram e que transferem a culpa dos seus erros para terceiros (todos conhecemos alguém assim).
Ora, nós somos atores nos diversos papéis que representamos na sociedade, em família, no meio profissional, etc.. e nesse desempenho de atores há cenas que falham, palavras que ficam por dizer, discursos que são demasiado longos, desnecessários e descontextuados, atitudes exageradas, despropositadas ou mal-entendidas, enfim uma panóplia de situações mundanas. Ou seja, inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde, todos erramos, caímos, falhamos, mas devemos saber aprender, erguer e vencer. A isto chama-se viver.
E por isso, apesar dos amargos de boca e ácidos no estômago quando sentimos que estivemos, de alguma forma, menos bem, devemos sentirmo-nos gratos pela nossa humanidade, pelo crescimento e aprendizagem no reconhecimento da situação e procurá-la corrigir prontamente. Agradecidos pela revelação das personalidades de quem nos rodeia, que nos momentos mais difíceis surgem mais claras e demonstram quem está do nosso lado e pronto a ajudar.
Será que conscientemente devemos suscitar os erros para essas aprendizagens? Será que (in)conscientemente criamos situações de tensão/conflito para um conhecimento mais profundo de quem está perto de nós? É preciso ter cuidado com estes “testes”, pois podem surgir surpresas com reações desagradáveis inesperadas.
A meu ver, no plano sociológico o erro é fundamental para o desenvolvimento humano, numa cadeia de sequências: erro, reconhecimento, diálogo, solução e não de choque e rutura. Porém, mesmo no processo de rutura e divergência mais profunda, existe um surgir de novas ideias e de novos caminhos para um determinado assunto.
No entanto, a pergunta que fica no ar é: Qual é o caminho correto? Por vezes só o futuro dirá na sequência de acontecimentos que ocorrerão com determinada escolha. Mas no momento da decisão há que optar, e aí como seres humanos com a nossa imperfeição inerente, muitas vezes… erramos.
Ter consciência é saber o que estamos a fazer e as consequências que daí advêm. Sejam positivas ou negativas. É saber que as atitudes que criticamos e não gostamos que nos façam, não as devemos fazer aos outros. É prever como se deve agir em determinadas situações com bom senso, ponderação e racionalidade, evitando conflitos supérfluos ou enfrentar os necessários e inevitáveis. Sim, porque também é preciso lutar pelo que achamos correto e não devemos fugir aos confrontos, com o risco de perdermos a nossa identidade.
Ter consciência de algo é muito abrangente, por exemplo, a “consciência ambiental” que cada vez mais é necessária, com a sensibilização da humanidade para os problemas da poluição do planeta, que começa com pequenos gestos diários de cada individuo e que pode levar a consequências desastrosas, escassez de água e alimentos, alterações climáticas, etc. Por exemplo, ter a “consciência cívica” e participar nas escolhas ideológicas e programáticas nos atos eleitorais, fundamental para uma maior qualidade e legitimidade da democracia.
A consciência de uma forma abrangente depende dos valores transmitidos, da cultura, da educação, do meio onde se está inserido, sendo que a “consciência ocidental” integra valores como a liberdade, a paz, o desenvolvimento, a humanidade. Porém, foi no continente europeu, berço da civilização, que se iniciaram as duas guerras mundiais. Ou seja, na sociedade o Homem tem uma camada de verniz aparentemente forte com a marca “civilizado” e na qual estão os comportamentos espectáveis e padronizados para cada situação social dita normal, no entanto, essa camada de verniz estala e, de vez em quando, sobressaem os seus instintos mais básicos que se encontram camuflados com banhos de lojas de marca e carros dispendiosos. Aí a consciência, a racionalidade e o civismo são toldados pela natureza animal que ainda coexiste em nós, e as prioridades como o território, riqueza, recursos e grupo de pertença (político/religioso/nacional) vem ao de cima.
Neste momento da história da humanidade, não esperávamos ver enormes desigualdades sociais, retrocessos civilizacionais, inconsciências, atitudes e situações que nos surgem nos canais de televisão ou na internet e que nos horrorizam, que nos envergonham, que nos fazem refletir se somos nós, os animais racionais e com consciência, que temos capacidade de liderar este planeta.
John Keegan, historiador inglês especializado em história militar, referiu (mais ou menos por estas palavras) que o ser humano encerra em si algo negro e por isso admite na sociedade as forças policiais e militares, se assim não fosse, estas seriam dispensáveis. Eu não diria “algo negro”, mas sim algo muito natural e profundo onde estão enraizados os instintos mais simples e puros, mas também mais egoístas e perigosos.
Por tudo isto, temos de ter consciência que a luta pela liberdade, paz e democracia é uma constante, que os valores e as conquistas adquiridas estão sempre a ser postas à prova com ameaças sistemáticas em ciclos histórico-políticos. Que os países europeus têm de se adaptar e evoluir para darem resposta a estes desafios, se querem continuar livres e donos dos seus destinos, quer como comunidade unida, quer como nação soberana na busca de um futuro promissor sustentável e pacífico para as gerações futuras.